terça-feira, 30 de setembro de 2008

Lhasa de Sela

A ouvir...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O final da tarde

Afternoon

I love, I love, I love the end of the afternoon
It makes me think of you.
Eu amo a tarde
O final da tarde
As coisas ficam mais soltas
As coisas ficam mais soltas
Os sorrisos mais altos
As cores das coisas ficam
As coisas ficam mais outras
Soltas no final da tarde

Os beijos ficam mais húmidos
Os lápis mais rápidos
As telhas mais frias, o fim se inicia
E o gado fica mais calmo

As dores ficam mais mornas
E os amores mais mais mais absolutos
No final da tarde eu amo a tarde
E os saltos dos sapatos ficam mais altos
E os dedos dos soldados abrem as ruas
E as palavras de dentro ficam for a
E o centro onde eu moro vira norte
E as almas das pessoas ficam nuas
E a vontade das vontades e te ver
E a vontade das vontades e te ter
No final da tarde eu amo a tarde
As coisas ficam mais soltas
Os sorrisos mais altos as cores das coisas
Ficam soltas…

I, I want to see you, I want to see you now
Cause I think of you in the end of the afternoon
I love the end of the afternoon.
Soltas, Soltas, Soltas, as dores ficam mais mornas
E os amores mais, mais absolutos.
E o gado fica mais calmo
E a vontade das vontades e te ver
E a vontade das vontades e te ter.
I love the end of the afternoon
As cores ficam mais outras, eu amo a tarde
As coisas ficam mais soltas, ir alem da tarde
To see you, enjoy it.

Conveniência


Já são horas de ser conveniente... Para quando o próximo álbum?

«(...) always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours»

«As Horas» é um dos romances americanos mais premiados dos últimos anos. Partiu do universo de Virginia Woolf.

Michael Cunningham recorda-se de ser um adolescente charrado na Califórnia dos anos 60 quando leu «Mrs. Dalloway» de Virginia Woolf, ao som da guitarra de Jimi Hendrix.

Era amor, achava ele. Amor a uma inesquecível colega de liceu que um dia lhe perguntara à queima-roupa se ele não achava a prosa de Woolf fantástica. Sim, sim, respondera, atarantado, antes de correr para a biblioteca da escola à procura da tal Virginia.

Trinta anos depois, Cunningham publicou o romance «As Horas». Ganhou o Pulitzer, o Pen/Faulkner, uns tantos prémios mais.

«As Horas» — título provisório que Virginia Woolf deu a «Mrs. Dalloway», em 1923 — é, de alguma forma, o resultado da paixão de Cunningham pelo universo de Woolf, desde essa tarde de charros ao som de Jimi Hendrix.
Passa-se num único dia de Junho em três tempos e três espaços: Nova Iorque, na actualidade, arredores de Londres, 1923, Los Angeles, 1949. Cada tempo-espaço corresponde a uma protagonista: em Nova Iorque, Clarissa (como Clarissa Dalloway); em Londres, a própria Virginia Woolf; em Los Angeles, Laura Brown, uma dona de casa que aluga um quarto para ler «Mrs. Dalloway».

O trio feminino de «As Horas» é pois composto por quem protagoniza, quem escreve e quem lê «Mrs. Dalloway».

Antes de entrarmos na alternância destas três narrativas há um prólogo que conta a caminhada para a morte de Virginia Woolf, até entrar no rio, com os bolsos cheios de pedras. Mas «As Horas» não se resume a ser homenagem ou tentativa de reescrita de «Mrs. Dalloway». É Manhattan na actualidade, com as suas estrelas ascendentes e cadentes, com patins e piercings e hetero-bi-homossexuais. É a Los Angeles do pós-II Guerra vivido pela mãe de Cunnigham — que inspirou Laura Brown, a mais poderosa personagem do livro. É o universo criado por Michael Cunningham.

As horas

«Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo.

Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais».

Michael Cunningham, in «As Horas» [excerto]

O mar, sempre o mar...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Todos os livros, todos os leitores


Como escreveu Francis Bacon, Alguns livros são para saborear, outros para engolir de uma assentada, e alguns, poucos, para mastigar e digerir.

«Uma História da Leitura» é, sem dúvida, dos que saboreamos. Durante muito tempo. Várias vezes.

Que Farei Quando Tudo Arde?

António Lobo Antunes tem estado em Nova Iorque a promover a edição do seu livro Que Farei Quando Tudo Arde?

Apesar de não ser segredo para ninguém, voltou a evidenciar a sua admiração pelo F. Scott Fitzgerald.

A parte desconcertante (como sempre acontece, ou não fosse o António Lobo Antunes) ocorreu quando disse Aprende-se a escrever ao ler os livros de Corín Tellado, porque é necessário ler livros maus. Com eles aprende-se a escrever.

Mistério de afrofite

Mistério de Afrodite

Na terra do sol
Uma pérola negra
Brilha perto do mar

Olha a água
Com olhos grandes como o coração
Com o coração grande como o oceano

O vermelho do pôr-do-sol
A cor rosa da madrugada
Levam seu olhar bem longe
Até as noites do branco
Inverno na europa
A água é um mistério de afrodite

A noite azul chega aos trópicos
E desvela as estrelas
Reflexos de luz
Do outro lado do rio mar
Queima como fogo
A saudade cio futuro
O oceano chora
Um universo de paixão
Chegam vento e nuvens
Pelos olhos da pérola negra
Caem lagrimas de puro amor
A água é um mistério de afrodite

Dueto com Caetano Veloso gravado para o álbum «Brizzi do Brasil» do compositor italiano Aldo Brizzi, 2004. Incluído no álbum «Obrigado», 2005.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Vida II

«Tenho saudades do tempo que não passámos juntos e que eu gostaria de ter passado contigo. Não acreditavas que o Homem foi à Lua. Agora chegaste finalmente lá.»

José Luis Peixoto, morreste-me [excerto]

Vida

«E esta tarde, e esta terra agora cruel. Na nossa rua, a nossa casa. A porta do quintal parada à minha frente, fechada, desafiante. Dizia nunca esquecerei, e esta tarde lembrei-me. Com os teus movimentos, tire do bolso o teu molho de chaves e, como costumavas, usei todos os cuidados para escolher a chave certa, examinando cada uma, orgulhando-me de cada uma. E, na fechadura, o triunfo. As coisas a acontecerem devidamente. A ferrugem, as dobradiças soltaram um grito como um suspiro ou um estertor. O alumínio rente ao mármore arrastou, varreu uma figura certa e branca no cobertor grosso de folhas de pessegueiro. Abandonado sobre o tamanho grande de um Inverno, o quintal de quando eu era pequeno, o quintal que construíste, pai. Tristes tristes flores novas e folhas novas nos ramos das árvores, canteiros pintados de malvas, trevos, ervas verdes, verdes de quando eu era pequeno e tu chegavas e me ensinavas trabalhos em grande. Orienta-te, rapaz. Eu oriento-me, pai. Não se preocupe. Eu também sei, eu também consigo. Eu oriento-me, pai. Não se rale. O trabalho não me mete medo. Esteja descansado, pai. Flores novas e folhas novas nos ramos das árvores, canteiros pintados de malvas, trevos, ervas verdes, verdes desta primavera triste triste.»

José Luis Peixoto, morreste-me [excerto]

morreste-me de José Luís Peixoto é uma pequena ficção publicada integralmente, pela primeira vez, em edição de autor (2000). O primeiro capítulo foi publicado no suplemento juvenil do Diário de Notícias, DN Jovem, em 1996. Dedicado ao seu pai falecido.

Condição de escaravelhos

«Que havia, pois, mais para a vida, para responder ao seu desafio de milagre e de vazio, do que vivê-la no imediato, na execução absoluta do seu apelo? Eliminar o desejo dos outros para exaltar o nosso. Queimar no dia-a-dia os restos de ontem. Ser só abertura para amanhã. A vida real não eram as leis dos outros e a sua sanção e o seu teimoso estabelecimento de uma comunidade para o furor de uma plenitude solitária. O absoluto da vida, a resposta fechada para o seu fechado desafio só podia revelar-se e executar-se na união total com nós mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pé e são nós e exigem realizar-se até ao esgotamento. Este «eu» solitário que achamos nos instantes de solidão final, se ninguém o pode conhecer, como pode alguém julgá-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? Sabê-lo é afirmá-lo! Reconhecê-lo é dar-lhe razão. Que ignore isso o que ignora que é. Que o despreze e o amordace o que vive no dia-a-dia animal. Mas quem teve a dádiva da evidência de si, como condenar-se a si ao silêncio prisional? Ninguém pode pagar, nada pode pagar a gratuidade deste milagre de sermos. Que ao menos nós lhe demos, a isso que somos, a oportunidade de o sermos até ao fim. Gritar aos astros até enrouquecermos. Iluminarmos a brasa que vive em nós até nos consumirmos. Respondermos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico que nos habita. Somos cães, ratos, escaravelhos com consciência? Que essa consciência esgote até às fezes a nossa condição de escaravelhos.»

Vergílio Ferreira, Aparição (excerto)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Quem tem medo, arranja um cão!

I want a dog

I want a dog, a Chihuahua
When I get back to my small flat
I want to hear somebody bark
Oh, you can get lonely
I want a dog

Don't want a cat
scratching its claws all over my habitat
giving no love and getting fat
Oh, you can get lonely
and a cat's no help with that

Bulldog, hound and pug and labrador
Collie, retriever and Doberman pincher
Husky, Dalmatian, Saint Bernard und Dachshund
Mongrel, beagle, Cocker spaniel

I want a dogto walk in the park
When it gets dark
my dog will bark at any passers-by
Oh, you can get lonely
I want a dog

I want a dog, a Chihuahua
When I get back to my small flat
I want to hear somebody bark
Oh, you can get lonely

Dança

Paula Rego, A Dança (1988)

A dança é uma das três principais artes cénicas da Antiguidade, ao lado do teatro e da música. Caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia), ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos cadenciados é acompanhada ao som e compasso de música e envolve a expressão de sentimentos potenciados por ela.

Fonte: Wikipédia

«Escrevo pela mesma razão que a pereira dá peras»


Não convive com escritores, habitualmente?

Eles estão a escrever, eu também. Também não conheço muitos. Curiosamente, conheço mais estrangeiros. Porque é quando tenho tempo e quando as pessoas aparecem. Aqui em Portugal não conheço muitos. Posso conhecer muitos de lhes apertar a mão ou de lhes dizer olá. E em todo o caso, de cada vez que vou à Feira do Livro, fico pasmado a ver os escritores a assinar livros, cheio de inveja. Eles escrevem! Continuo a ter a mesma atitude de quando era miúdo e ia a uma cervejaria que havia, na altura, em frente ao Jardim Zoológico, onde - acho que era às quintas-feiras - almoçava um grupo de gente que escrevia: o David Mourão-Ferreira, a Natália Correia, por aí fora. Eu ficava cá fora, de nariz encostado ao vidro, a vê-los comer. Encantado. Continuo a estar assim. São escritores que eu nem conheço: estão ali a assinar livros ou estão à espera que cheguem os leitores. Deve ser muito aborrecido, muito penoso. E eu fico ali encantado.

Revista Ler, n.º 69 - Maio de 2008 [entrevista de Carlos Vaz Marques]

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Berlim, Fevereiro 2008


cigarros & calorias

Tabacaria

[…]

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

[…]

Álvaro de Campos, Tabacaria (excerto), 15-1-1928

Olímpiadas 2008


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

So tell the girls that I am back in town

Música melancólica, melodiosa, mas sobretudo moderna, é como se podem classificar os trabalhos de Jay-Jay Johanson. Apesar de ter uma forte componente electrónica, não é de pistas de dança, ainda que as tenha “roçado” na sua fase mais radical, com o álbum «Antenna».

Na fase inicial da sua carreira, cantava So tell the girls that I am back in town:


I've been on the road
I've been on vacation
I've been travelling light to reach my final destination

Now I'm coming home

So tell the girls that I am back in town
You'd better tell them to beware
Well they may go or they might try to hide
I follow on and I'll be there
So tell the girls that I am back in town
And if it's true I do not know
That every girl around had missed me since
I decided to go

I could be your friend
I could be your stranger
I could be the one your mother said would be a danger
Now it's up to you

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Livro da dança

Primeiro livro de Gonçalo M. Tavares, centrado na dança. Uma hesitação entre a poesia e o ensaio. Pequeno excerto:

«é evidente que podemos explicar.
é evidente que podemos concluir.
é evidente que podemos curar.
é evidente que podemos abrir 1 consultório e dizer: PAGA!
é evidente que podemos psicanalizar.
é evidente que podemos ter componentes.
é evidente que podemos começar pelo início.
é evidente que podemos ter emoção e razão e céu em cima e terra por baixo.
é evidente que podemos comer e não dar por isso, defecar e não dar por isso, fornicar e fecundar e não dar por isso.
é evidente que podemos Regressar.
é evidente que podemos enumerar e dar os nomes certos às coisas erradas.
é evidente que podemos acertar.
é evidente que podemos ter 1 corpo sem falhas excepto a Falha Grande que é MORRER e as outras falhas pequenas que são a dor a doença e a velhice.
é evidente que podemos fixar, explicar, concluir, exemplificar, começar, abrir 1 consultório, curar, receber e pagar, estruturar, desenvolver, ter ideias claras e ideias claras, é evidente que podemos pensar, dançar e depois pensar ou então o contrário
é evidente, enfim, de novo, insisto, que podemos explicar, mas é melhor não.»

Gonçalo M. Tavares, Livro da Dança, Assírio Alvim, Novembro 2001 [excerto]

Moleskine vs. Bruce Chatwin



A importância de Bruce Chatwin para além dos seus livros

Originalmente produzidos por um pequeno papeleiro francês que abastecia as papelarias parisienses frequentadas por uma elite cosmopolita e vanguardista, o Moleskine deixou de ser produzido em finais do século XX.

Em 1986, escritor Bruce Chatwin, em vésperas de partir para a Austrália e quando se dirigiu a uma papelaria na em Paris para se abastecer dos seus cadernos de apontamentos, ficou estarrecido quando soube que já não existe o moleskine autêntico. Em 1998 um grupo de artistas italianos, proprietários de uma empresa de distribuição de artigos de escritório, registou a marca dos “carnets moleskines” usados por Chatwin e lançou-se no mercado. Ao que tudo indica, terá sido este escritor o autor da designação que, traduzida à letra, significa “pele de toupeira”.

Roisin Murphy

A ver no Coliseu dos Recreios no próximo dia 30 de Outubro.

Esta data junta-se ao espectáculo já anunciado para a Casa da Música, no Porto, a 31 do mesmo mês.


terça-feira, 16 de setembro de 2008

Leitura sobre rodas

Foi você que pediu?!

A “Bookinist” é uma cadeira móvel, desenhada por Nils Holger Moormann, especialmente para a leitura. Com capacidade para cerca de 80 revistas / livros, os quais podem ser armazenados nos braços, costas e na parte inferior da cadeira.

Tem ainda um candeeiro para leitura e compartimentos para guardar óculos, marcadores de livros, canetas e lápis, além de uma roda para facilitar a locomoção da cadeira. Um verdadeiro convite à leitura e ao lazer.

Palavras para quê?


O regresso...

Parece que os Madredeus estão de regresso, ainda que sem a Teresa Salgueiro.

De acordo com a agência Lusa, Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade dão por terminada a pausa sabática iniciada com a saída da intérprete Teresa Salgueiro e tencionam apresentar o novo disco com três vozes femininas e percussão ainda durante o ano de 2008.

Ainda bem que vamos continuar a ouvir a música do Pedro e do Carlos, mas fará sentido manter o nome “Madredeus”, na medida em que muda a voz e a sonoridade?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Manhã submersa

«Eu vivia, de resto, agora, e cada vez mais, da minha imaginação. E foi por isso a partir de então que eu descobri a violência da realidade. Nada era como eu tinha fantasiado e não sabia porquê. Parecia-me que havia sempre outras coisas à minha volta que eu não supunha, e que essas coisas tinham sempre mais força do que eu julgava. Assim, a minha pessoa e tudo aquilo que eu escolhera para mim não tinham sobre o mais a importância que eu lhes dera. Chegado à realidade, muita coisa erguia a voz por sobre mim e me esquecia.»

Vergilio Ferreira, Manhã Submersa [excerto]

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O mar


Não é nenhum poema
o que vos vou dizer
Nem sei se vale a pena
tentar-vos descrever

O mar
O mar

E eu aqui fui ficando
só para O poder ver
E fui envelhecendo
sem nunca O perceber

O Mar
O mar

Composição: Pedro Ayres Magalhães

Studio 54

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A cidade


Ai, esta saudade
Não tem idade
Não tem idade
Ai, esta saudade
Ai, esta saudade

Esta cidade
Não tem idade
Não tem idade
Ai esta cidade
Esta cidade

Esta verdade
Não tem idade
Não tem idade
Ai esta verdade
Ai esta verdade

Francisco Menezes / Pedro Ayres Magalhães / Rodrigo Leão

O Prazer da Leitura

Marcel Proust
(1871-1922)

«Não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar sem tê-los vivido, aqueles que passámos com um livro preferido.»

[...]

«A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. E além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, são estéreis e cansativas. Além disso, — desde as primeiras relações de simpatia, de admiração, de reconhecimento, as primeiras palavras que escrevemos, tecem à nossa volta os primeiros fios de uma teia de hábitos, de uma verdadeira maneira de ser, da qual já não conseguimos desembaraçar-nos nas amizades seguintes; sem contar que durante esse tempo as palavras excessivas que pronunciámos ficam como letras de câmbio que temos que pagar, ou que pagaremos mais caro ainda toda a nossa vida com os remorsos de as termos deixado protestar. Na leitura, a amizade é subitamente reduzida à sua primeira pureza.

Com os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serão com eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas vezes só os deixamos a contragosto. E quando os deixamos, não temos nenhum desse pensamentos que estragam a amizade: — Que terão eles pensado de nós? — Não tivemos falta de tacto? — Teremos agradado? — nem o medo de sermos esquecidos por um deles. Todas estas agitações da amizade expiram no limiar dessa amizade pura e calma que é a leitura. Também não há deferência; só rimos com o que diz Molière na exacta medida em que lhe achamos graça; quando ele nos aborrece, não temos medo de mostrar um ar aborrecido, e quando estamos decididamente fartos de estar com ele, pômo-lo no seu lugar tão bruscamente como se ele não tivesse nem génio nem celebridade. A atmosfera desta pura amizade é o silêncio, mais do que a palavra. Porque nós falamos para os outros, mas calamo-nos para connosco mesmos. É por isso que o silêncio não traz consigo, como a palavra, a marca dos nossos defeitos, das nossas caretas. Ele é puro, é verdadeiramente uma atmosfera. Entre o pensamento do autor e o nosso não interpõe elementos irredutíveis refractários ao pensamento, os nossos egoísmos diferentes. A própria linguagem do livro é pura (se o livro for digno desta palavra), tornada transparente pelo pensamento do autor que dele retirou tudo quanto não fosse ele próprio até o transformar na sua imagem fiel; cada uma das frases, no fundo, semelhante às outras, dado que todas são ditas através da inflexão única de uma personalidade; daí uma espécie de continuidade, que as relações da vida e o que estas associam ao pensamento como elementos que lhe são estranhos excluem e que permite muito rapidamente seguir o próprio fio do pensamento do autor, os traços da sua fisionomia que se reflectem neste espelho tranquilo. Sabemos apreciar os traços de cada um deles sem termos necessidade de que sejam admiráveis, pois é um grande prazer para o espírito distinguir essas pinturas profundas e amar com uma amizade sem egoísmo, sem frases, como dentro de nós mesmos.»

Marcel Proust, in «O Prazer da Leitura»

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Banda Sonora

Uma sugestão de banda sonora para a despedida do Verão.

Mylene Pires reinventa algumas das canções do grupo Madredeus com sonoridades e ritmos do Brasil.





1- O paraíso
2- Vem - Além de toda solidão
3- O pomar das laranjeiras
4- Fado das dúvidas
5- O sonho
6- A andorinha da primavera
7- O menino
8- Haja o que houver
9- Não muito distante
10- O pastor
11- Alfama
12- Canta para ti
13- A confissão
14- A quimera
15- A cantiga do campo
16- Oxalá