sábado, 31 de janeiro de 2009

Encher a vida

E findo o livro, uma obscura alegria me tomou, contentamento quase clandestino, o de ter mais um cúmplice, nesta loucura de encher a vida a escrever romances. Como se numa multidão indiferente alguém erguesse a voz para me saudar. Como se num deserto alguém esperasse para lhe passar testemunho. Como se de repende eu fosse menos louco.

Vergílio Ferreira
Conta-Corrente, II

Voyeur

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Overdose

[…]
Esqueçam os museus; esqueçam os jardins zoológicos; os teatros, concertos e cinemas: nenhuma visita é mais instrutiva ou estonteante do que uma idazinha à praça. […]

[…]
Foi você que pediu uma “overdose”? Toma lá figos do Algarve, roxos de tão doces, rechonchudos e a rebentar de bons, como os galãs de tronco nu dos anos 60 ou, caso seja homofóbico mas à mesma “retro”, a Ursula A/Undress, de biquíni apocalíptico naquele filme do James Bond. […]


Miguel Esteves Cardoso in «Em Portugal Não Se Come Mal»

Tintin no cinema

Steven Spielberg e Peter Jackson vão levar, pela primeira vez, o famoso jornalista ao cinema.
A aventura cinematográfica de Tintin vai ter o título de The adventures of Tintin: Secret of the unicorn e será o primeiro filme de uma trilogia. Terá ainda a particularidade de ser exibido em formato 3D.


Jamie Bell: Tintin.
Daniel Craig: vilão Red Rackham.
Os irmãos detectives Dupond e Dupont: Simon Pegg e Nick Frost.
Capitão Haddock: Andy Serkins.

O filme vai começar a ser gravado em Fevereiro e prevê-se que chegue à salas de cinema em 2011. Vamos aguardar.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Frágil com Quase Famosos

6ª à noite, o Frágil recebe Os Quase Famosos, um grupo de DJ’s.

De acordo com o Ricardo, um DJ quase famoso :-))), está prometida Uma espécie de caril indie com pitadas dançáveis e piscadelas nostálgicas aos Smiths e aos Cure.
Todos ao Frágil na 6ª! Até lá!!!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

«Tu e Eu»

Tu e Eu, no Teatro Aberto, é a história de Tuninho e Garceu, dois amigos confinados a um caixote, que conhecem o mundo apenas através das imagens que lhes mostra um livro de aventuras. Mas, como diz Garceu, “um livro é um livro, o mundo é o mundo”. Cheio de coragem e determinação, desafia Tuninho, acabado de sair do seu cómodo ninho, a acompanhá-lo na descoberta de outras paragens. Os dois são “o medo e a aventura de mãos dadas” – Garceu quer enfrentar tudo que o aterroriza, Tuninho receia a própria sombra.

Texto do alemão F. K. Waechter (1937-2005), escritor, ilustrador e cartoonista. Encenação de Sofia de Portugal.

Adriano Carvalho e Pedro Carraca são os dois amigos. Uma referência especial à brilhante actuação de André Patrício que faz de “apresentador”, uma espécie de narrador que intervém na acção para ajudar a contar a história.

Parabéns André!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

poesia de peso

Uma das melhores notícias editoriais de 2009 revela que Herberto Helder está de volta!

Após 4 anos de absoluto silêncio e recolhimento (quem consegue convencê-lo a dar uma entrevista?!?), em 2008 brindou-nos com o já esgotado A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (considerado pelo Ípsilon como o melhor livro do ano).

Em Janeiro de 2009 é editado Ofício Cantante - Poesia Completa. De salientar que esta pesada antologia (624 páginas) inclui alguns inéditos, bem como o referido (esgotadíssimo) livro publicado em 2008, em relação ao qual não se conhece vontade de o reeditar.

Num dos seus famosos versos, Herberto diz: «Não posso escrever mais alto». Eu digo que não é necessário.


não chamem logo as funerárias,
cortem-me as veias dos pulsos pra que me saibam bem morto,
medo? só que o sangue vibre ainda na garganta
e qualquer mão e meia me encha de terra a boca,
sei de quem se tenha erguido, de pura respiração, do fundo da madeira,
saibro, roupa, gotas de orvalho ou cera,
ornatos, espadanas, lágrimas,últimas músicas,
não é como no escuro o trigo que ressuscita,
sei sim de quem despedaçou as tábuas e ficou entre caos e nada com o
sangue alvoroçado nos braços e nas têmporas,
que se não pare nunca entre as matérias intransponíveis,
cortem-me cerce o sangue fresco,
que a terra me não coma vivo,
[excerto]

Ofício Cantante - Poesia Completa
Herberto Helder
Assírio & Alvim

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Jardim de Inverno




Jardim de Inverno, com direcção, interpretação e selecção musical de Olga Roriz, consubstanciou-se, em minha opinião, numa das peças de maior beleza dramática do panorama da dança contemporânea nacional.

Não sei porquê, mas lembrei-me agora desse jardim. Aqui ficam algumas fotos. Aqui fica o magnífico texto / sinopse, da própria Olga Roriz:

No jardim da casa do mar. Ela espera. Avança e logo pára. Ela não pára nunca. Ela embate contra os muros metálicos do jardim. Ela quer ficar só até que o tempo passe. Ela recua até ao princípio do caminho e depois recomeça. Avança na direcção da casa. Ela escuta. Ela deixa-se estar na escuta dos passos sobre o mar. Ela não olha as duas mulheres que se tocam. Ela inventa. As mulheres olham-na. Esperam. Elas vêm os jogos que ela se faz inventar para não parar nunca. Ela foge e depois pára. Ela deixa-se ver. O cheiro da chuva mistura-se com o cheiro do mar. Ela recomeça.

Olga Roriz
Março 1990

«Lisbon Revisited»

A Casa Fernando Pessoa inaugura hoje a exposição Lisboa Revisitada do ilustrador e fotógrafo Jorge Colombo que pretendende responder à pergunta Que Lisboa veria Álvaro de Campos, se a visse hoje? A resposta é dada em 52 fotografias.

A visitar!

O Público escreve: «Ficção construída por Jorge Colombo sobre a ficção de Fernando Pessoa que o próprio Álvaro de Campos foi, esta exposição, que se poderia ter intitulado Lisbon Revisited (2009), resulta de uma fusão de múltiplos olhares. O olhar actual do fotógrafo, o olhar do Jorge Colombo que viveu em Lisboa, e que captou imagens que a sua memória conserva, o olhar do Álvaro de Campos da juventude, fascinado com as multidões de transeuntes anónimos, com o movimento trepidante dos comboios, com as manchetes dos matutinos, com as luzes feéricas dos anúncios comerciais, e ainda esse olhar angustiado do Campos final, mais parecido com o do Pessoa ortónimo, um homem sem pátria alguma, sozinho numa sala deserta, cuja alma se partiu "como um vaso vazio" e "caiu excessivamente pela escada abaixo".»

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A espreitar....

Aqui ficam algumas fotografias tiradas durante o primeiro ensaio do novo projecto Matriz.

(Ver também post de 24 de Dez e 3 de Jan)





quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

«Sem merda, nada feito»


O ultimo livro do MEC não defrauda os seus leitores. Faz jus ao já longínquo, mas excelente, “A Causa das coisas”.

Desta feita, temos um conjunto de crónicas à volta da comida portuguesa, dos portugueses que a comem, de como o fazem, do que sentem quando o fazem… E tudo isto com a qualidade de edição que a Assírio & Alvim nos tem habituado.

Aqui fica um excerto da primeira crónica, sugestivamente intitulada Sem merda , nada feito.


[...] A verdade — e não sei de uma maneira elegante de exprimir isto — é que a merda e a comida estão intrinsecamente ligadas. A merda é adubo — é comida de plantas e de bichinhos. A razão da existência de amêndoas-doces, por exemplo, está mais do que provada.

Há milhares de anos só havia amêndoas amargas. Os bichos provavam e cuspiam. Mas, quando aparecia uma doce, comiam. E, tal como comiam, acabavam por cagar. A semente acabava assim por sair para o mundo e ser acomodada num montinho simpático de merda que a nutria. Resultado: cada vez as amêndoas mais doces singravam. Assim aconteceu com muitas plantas. Por uma selecção natural, as saborosas nasceram num infantário de merda, enquanto as amargas foram cuspidas para um desértico celibato.

Negar ou desfazer esta ligação essencial entre o que se come e o que se caga é pôr em causa a própria natureza humana. Deixar de comer muita fruta só por que produz imenso gás (coisa que os fascistas sanitários nunca mencionam) é tentar fugir, estupidamente, ao ciclo da vida. O elo entre a boca e o cu não só merece atenção — merece respeito.

O que me traz aos ovos. Hoje em dia é proibido mencionar que as galinhas têm cu — mas têm. É por onde saem os ovos, desculpem lá. Entre gastrónomos avançados, os ovos com tracinhos de merda na casca são avidamente comprados por cinco vezes mais do que o preço habitual dos ovos lavados, carimbados, pasteurizados. As galinhas comem merda; como comem os porcos; como comem as santolas.

Claro que faz nojo — mas é um nojo moderno, que se deve resistir. Os melhores limões que já provei, criados pela mãe da minha cunhada Xana, sogra do meu irmão Paulo, são criados exclusivamente com caganitas de cão. Há coisa mais limpinha do que um limão? Não, não há. Quem não compreender a relação íntima entre o cagalhão e o limão não percebe nada. [...]


Em Portugal Não se Come Mal
Miguel Esteves Cardoso
Assírio & Alvim

Horas indecisas

«Ah, as horas indecisas em que a minha vida parece de um outro...
As horas do crepúsculo no terraço dos cafés cosmopolitas!
Na hora de olhos húmidos em que se acendem as luzes
E o cansaço sabe vagamente a uma febre passada.»

Álvaro de Campos

sábado, 10 de janeiro de 2009

Tintim

Tintim, um dos meus ídolos de infância, completa hoje 80 anos. Foi criado por Hergé.

A 10 de Janeiro de 1928 apareceu pela primeira vez nas páginas do jornal belga Le Petit Vingtième, ainda em preto e branco. Ao longo de sua ilustre carreira, Tintim foi acusado de muita coisa: racista, colonialista, nazista, alienado…

Realmente, Tintim é um mistério: um repórter que não trabalha, e que mora num castelo com um marinheiro de meia-idade, um professor e um cachorrinho, e cuja única amiga mulher é uma cantora de ópera.

Para mim, Tintim é apenas um menino de 7 anos que não cresce.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Arte

Iris Murdoch por Tom Phillips (óleo), 1984-6
Acabei de ler O Príncipe Negro, de Iris Murdoch (acerca do qual já inseri vários posts).

À semelhança do conceito de cultura, também a arte é difícil de definir de forma sucinta e satisfatória. Iris Murdoch arriscou e optou por finalizar o livro acima referido com uma definição de arte. Brilhante, a meu ver.

Aqui ficam as últimas frases do livro, para vossa apreciação:

[…] A arte não é confortável nem falsificável. A arte conta a única verdade que em definitivo interessa. É a luz através da qual os seres humanos podem ser corrigidos. E para além da arte, permitam que vos diga, não existe nada.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Save the date

No post de 24 de Dezembro, falo no novo trabalho da Teresa Salgueiro, a ser editado no início de 2009, Matriz.

Agora, as últimas notícias avançam que a apresentação do novo trabalho, vai ocorrer a 13 de Março no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Receita fácil

Another day, just believe,
Another day, just breathe,
Another day, just believe,
Another day. Just breathe.

Graffiti


Nas paredes de um "cafesinho" na Lapa...
Pedi mais um café por favor!
Fico mais um pouco...

Coisas

[…]
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
[…]

Álvaro de Campos, Tabacaria (excerto)

So many stars

So Many Stars
(Sergio Mendes, Alan Bergman, Marilyn Bergman)

The dark is filled with dreams
So many dreams which one is mine
One must be right for me
Which dream of all the dreams
When there's a dream for every star
And there are oh so many stars
So many stars
The wind is filled with songs
So many songs which one is mine
One must be right for me
Which song of all the songs
When there's a song for every star
And there are oh so many stars, so many stars
Along the countless days, the endless nights
That I have searched so many eyes
So many hearts, so many smiles
Which one to choose, which way to go, how can I tell
How will I know, out of, oh
So many stars, so many stars
[...]

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Casamento e Solidão

«[…] O casamento é uma instituição curiosa, […]. Não consigo compreender lá muito bem como pode funcionar. Normalmente as pessoas que se vangloriam de um casamento feliz estão, parece-me, a enganar-se a si próprias, se é que não a mentir deliberadamente. A alma humana não foi concebida para uma proximidade constante, e esta vizinhança forçada redunda amiúde numa solidão espantosa, que as regras do jogo impedem que seja mitigada. Nada se compara à inútil solidão de duas pessoas enjauladas no mesmo espaço. Os que estão fora da jaula podem, segundo o seu gosto, satisfazer a sua necessidade de companhia através de incursões mais ou menos organizadas ao território dos outros seres humanos. Mas uma unidade de dois dificilmente consegue comunicar com os outros; e já se pode dar por feliz, à medida que os anos passam, se conseguir comunicar dentro de si mesma. […]»

Iris Murdoch
O Príncipe Negro (excerto)

Recordar

Por esta altura, há 2 anos atrás, Lisboa assistia a um dos mais belos espectáculos de dança, o qual foi interpretado por dois bailarinos da minha absoluta preferência. Falo de O Lago dos Cisnes, protagonizado pela Ana Lacerda e pelo cubano Carlos Acosta (primeiro bailarino do Royal Ballet). Teatro Camões, pela CNB.

Composto por Tchaikovsky em 1876, por encomenda do Teatro Bolchoi de Moscovo, O Lago dos Cisnes, notabilizou-se pela beleza da música. Inspirado numa antiga lenda alemã, em que o mundo tridimensional se cruza com um mundo mágico e místico, O Lago dos Cisnes conta a história de Odette, uma princesa transformada em cisne pela acção perversa de um feiticeiro. Após uma difícil luta entre o poderoso e cruel Von Rothbart, e o Príncipe Siegfried, Odette é finalmente resgatada pelo amor do príncipe.

Aqui ficam algumas fotos para recordar.