«[…] O casamento é uma instituição curiosa, […]. Não consigo compreender lá muito bem como pode funcionar. Normalmente as pessoas que se vangloriam de um casamento feliz estão, parece-me, a enganar-se a si próprias, se é que não a mentir deliberadamente. A alma humana não foi concebida para uma proximidade constante, e esta vizinhança forçada redunda amiúde numa solidão espantosa, que as regras do jogo impedem que seja mitigada. Nada se compara à inútil solidão de duas pessoas enjauladas no mesmo espaço. Os que estão fora da jaula podem, segundo o seu gosto, satisfazer a sua necessidade de companhia através de incursões mais ou menos organizadas ao território dos outros seres humanos. Mas uma unidade de dois dificilmente consegue comunicar com os outros; e já se pode dar por feliz, à medida que os anos passam, se conseguir comunicar dentro de si mesma. […]»
Iris Murdoch
O Príncipe Negro (excerto)
Iris Murdoch
O Príncipe Negro (excerto)
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