segunda-feira, 29 de setembro de 2008

«(...) always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours»

«As Horas» é um dos romances americanos mais premiados dos últimos anos. Partiu do universo de Virginia Woolf.

Michael Cunningham recorda-se de ser um adolescente charrado na Califórnia dos anos 60 quando leu «Mrs. Dalloway» de Virginia Woolf, ao som da guitarra de Jimi Hendrix.

Era amor, achava ele. Amor a uma inesquecível colega de liceu que um dia lhe perguntara à queima-roupa se ele não achava a prosa de Woolf fantástica. Sim, sim, respondera, atarantado, antes de correr para a biblioteca da escola à procura da tal Virginia.

Trinta anos depois, Cunningham publicou o romance «As Horas». Ganhou o Pulitzer, o Pen/Faulkner, uns tantos prémios mais.

«As Horas» — título provisório que Virginia Woolf deu a «Mrs. Dalloway», em 1923 — é, de alguma forma, o resultado da paixão de Cunningham pelo universo de Woolf, desde essa tarde de charros ao som de Jimi Hendrix.
Passa-se num único dia de Junho em três tempos e três espaços: Nova Iorque, na actualidade, arredores de Londres, 1923, Los Angeles, 1949. Cada tempo-espaço corresponde a uma protagonista: em Nova Iorque, Clarissa (como Clarissa Dalloway); em Londres, a própria Virginia Woolf; em Los Angeles, Laura Brown, uma dona de casa que aluga um quarto para ler «Mrs. Dalloway».

O trio feminino de «As Horas» é pois composto por quem protagoniza, quem escreve e quem lê «Mrs. Dalloway».

Antes de entrarmos na alternância destas três narrativas há um prólogo que conta a caminhada para a morte de Virginia Woolf, até entrar no rio, com os bolsos cheios de pedras. Mas «As Horas» não se resume a ser homenagem ou tentativa de reescrita de «Mrs. Dalloway». É Manhattan na actualidade, com as suas estrelas ascendentes e cadentes, com patins e piercings e hetero-bi-homossexuais. É a Los Angeles do pós-II Guerra vivido pela mãe de Cunnigham — que inspirou Laura Brown, a mais poderosa personagem do livro. É o universo criado por Michael Cunningham.

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