quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo!!!


Poderia ser um quadro de Hopper...

Inge Morath, Mapes Hotel, Reno, 1960
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Esta foto expõe Miller e Marilyn à beira da ruptura: marido e mulher juntos num quarto de hotel, mas onde é visível a distância entre os dois.

A mim evoca-me o universo do meu tão admirado Edward Hopper…

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Infinitamente..........

"Eu pergunto-me se é possível entrevistar um escritor. Acho que não é porque ele é muita gente. E é muito difícil apanhar essa multidão toda."

António Lobo Antunes [RTP2, Por outro lado, 04.04.2006]

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Desiderata, a junção do bem": banda sonora de um filme que não existe

Está à venda o primeiro cd a solo de Francisco Ribeiro (antigo violoncelista dos Madredeus), intitulado “Desiderata, a junção do bem”. Consiste em 14 temas de nova música vocal, orquestral e de câmara. Utiliza sonoridades modais portuguesas, canto cigano/moçárabe, fado de Coimbra, e tem influência clássica, contemporânea, minimalista, new age e da film music. É música plena de imagens e que funciona como a banda sonora de um filme que não existe, mas que se existisse se intitularia ‘A Junção do Bem’.
Os temas/canções evocam algumas emoções e sentimentos em torno do amor: a memória/saudade, a obsessão, a rejeição, a perda, a procura, o uso de corpos-desejos, a entrega, a festa, a sacralidade, a paixão, o perdão. O ouvinte é convidado numa viagem e poderá identificar-se com um tema característico do classicismo – o do herói que desce ao sub-mundo para regressar vencedor no final. Existe a linha condutora de uma viagem das trevas para a luz, sendo o amor o veículo/solução e o tema principal.
Convidou José Peixoto para a guitarra acústica e a Orquestra Nacional do Porto para o resto dos instrumentos, o disco vive muito das vozes de Tanya Tagaq (que gravou com Bjork, por exemplo), Filipa Pais, Natália Casanova (magnífica voz dos extintos e saudosos Diva), José Perdigão e do próprio Francisco Ribeiro.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sundays...

Homer Winslow [The New Novel] 1877

Assim, sim!!


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

porque é natal...



apesar de neste ano não sentir o chamado "espírito de natal", aqui ficam umas bonitas "árvores"...


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

[...]

Valha-nos isso!!!

sábado, 12 de dezembro de 2009

"(...) as palavras estão gastas.

Adeus."

Giselle

O bailado clássico surge muitas vezes ligado a espectáculos de tradição natalícia. "Giselle", que a Companhia Nacional de Bailado (CNB) estreia hoje, pelas 21 horas, no Teatro Camões, em Lisboa, não foge à regra e é um dos muitos eventos.

"Giselle" enfrenta, assim, a concorrência de outras obras célebres, sendo que a coreografia desta peça, que marca o apogeu da nova estética romântica que agitava o mundo intelectual e artístico de finais do século XIX, é um verdadeiro teste à capacidade técnica e interpretativa dos bailarinos.

Ana Lacerda, que dá, uma vez mais, alma à protagonista, diz que, em cada remontagem, há sempre coisas a descobrir. "Já é a terceira vez que danço 'Giselle' e de cada vez há sempre coisas novas a descobrir, novos desafios que nos são colocados enquanto intérpretes. É engraçado porque cada remontagem acaba por funcionar como se fosse a primeira", explica a bailarina principal da CNB.

Para Ana Lacerda, "não importa há quanto tempo já estamos familiarizados com uma coreografia. Há sempre coisas a aprender".

A coreografia que a CNB leva ao palco do Teatro Camões, onde tem agendados mais sete espectáculos (dias amanhã, domingo e dias 17, 18, 20, 22 e 23 deste mês), tem coreografia do cubano Georges Garcia, segundo o que, em 1841, foi apresentado por Jean Corelli, na Ópera de Paris, onde este bailado estreou.

Ana Lacerda fala da música maravilhosa composta por Adolph Adam (que será interpretada, ao vivo, pela Oquestra Sinfónica Portuguesa, sob direcção de Geoffrey Styles) e da história romântica que Giselle conta. Não obstante já ter dançado várias vezes esta coreografia, a bailarina lembra que este é um "ballet" que sublinha o enorme êxito que a peça conheceu. "Basta ver como ela está, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, integrada no reportório de grande companhias internacionais".

Quando o pano sobe, o cenário remete os espectadores para uma pequena aldeia do Reno, no tempo das vindimas, frente à casa onde mora Giselle. É neste espaço que surge o Duque de Silésia, que se disfarça de aldeão adoptando o nome de Loys e que, deste modo, corteja a jovem, não obstante estar noivo da altiva Batilde. O seu guarda de caça, Hilarion, também apaixonado por Giselle, acaba por descobrir a trama e denuncia o logro.

A história do bailado responde ao gosto da época pelo fantástico, pelo irreal, pelas emoções fortes. Um desafio para quem, em palco, ao longo de mais de duas horas, dá vida a todas estas personagens, dançando em pontas.

A personagem de "Giselle" está entre as preferidas de Ana Lacerda, a par de "Julieta" ou de "A Dama das Camélias". "Ser bailarina é uma profissão tão emocional, tão especial e tão rara que é uma pena que não se dê o devido valor e que muitas vezes não se respeite o nosso trabalho", lamenta .

Ana Lacerda iniciou-se aos cinco anos, tendo passado pela extinta escola de bailado da Companhia Nacional de Bailado, então sedeada no Teatro Nacional de São Carlos. Não obstante ter tido hipótese de fazer carreira no estrangeiro, optou por continuar a dançar em Portugal.

Fonte: JN

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

"Whislist"

:-)

Livros, livros, livros

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro

Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dúvida, sobretudo o verso)
o que pode lançar mundos no mundo. Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Solidariedade nas Livrarias Almedina

Quer oferecer um livro?

Ofereça-o à Acreditar - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro. Em todas as lojas Almedina encontra um espaço onde pode depositar os livros que trouxer ou adquirir.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Névoa


Em 1914, Mário de Sá-Carneiro escreveu:
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"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro."
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Em 2009, o Artur Lourenço consegue transmitir o mesmo através desta magnífica foto. Pode ficar-se a olhar e quase ver o nevoeiro a passar. Gostei. Muito

Fumar mata


Referendos & afins

A última crónica do gato fedorento mais famoso é excepcional. Ora leiam:
"Confesso que não sei se as pessoas nascem com essa característica ou se optam por adoptar o comportamento desviante que a Bíblia, aliás, condena - mas, na minha opinião, os canhotos não deveriam poder casar. Nem adoptar crianças. Um casal de pessoas, digamos, normais, acaricia a cabeça dos filhos como deve ser, da esquerda para a direita. Os canhotos acariciam da direita para a esquerda, o que pode ter efeitos perversos na estrutura emocional das crianças. Na verdade, sou contra a adopção por casais heterossexuais em geral, sejam ou não canhotos. Atenção: não tenho nada contra os heterossexuais. Tenho muitos amigos heterossexuais e eu próprio sou um. Mas não concordo que possam adoptar crianças. Em primeiro lugar, porque é contranatura. Quando olhamos para a natureza, não vemos casais de pardais ou de coelhos a adoptarem crias de outros. Pelo contrário, esforçam-se por colocar as suas crias fora do ninho ou da toca o mais rapidamente possível. Ou usam as suas próprias crias para produzir novas crias. Mas não adoptam. Provavelmente, porque sabem que é contranatura. Por outro lado, a adopção por casais heterossexuais pode condicionar a sexualidade das crianças. Todos os homossexuais que conheço são filhos de casais heterossexuais. A influência de heterossexuais tem, por isso, aspectos nefastos que merecem estudo cuidadoso. Por fim, há a questão do estigma social. Suponhamos que uma criança adoptada por um casal heterossexual é convidada para ir a casa de um colega adoptado por um casal de homens. Como é que o miúdo que foi adoptado por heterossexuais se vai sentir quando perceber que a casa do colega está muito mais bem decorada do que a dele?

Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, mais do que ser a favor de um referendo, sou a favor de vários. Creio que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser referendado caso a caso. O Fernando e o Mário querem casar? Pois promova-se uma grande discussão nacional sobre o assunto. A RTP que produza um Prós e Contras com cidadãos de vários quadrantes que se posicionem contra e a favor da união do Fernando e do Mário. Organizem-se debates entre o Mário e os antigos namorados do Fernando, para que o povo português possa ter a certeza de que o Fernando está a fazer a escolha certa. E depois, então sim, que Portugal vá às urnas decidir democraticamente se concede ao Mário a mão do Fernando em casamento. E assim para todos os matrimónios. Se o objectivo é metermo-nos na vida dos outros, façamo-lo com o brio que essa nobre tarefa merece.

Defendo, portanto, uma abordagem especialmente cautelosa desta questão. Sou muito sensível ao argumento segundo o qual, se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo sexo, teremos de legalizar também as uniões dos polígamos. E sou sensível porque, como é evidente, não posso negar que me vou apercebendo da grande movimentação social de reivindicação do direito dos polígamos ao casamento. Parece que já temos entre nós vários muçulmanos, grandes apreciadores da poligamia. E eu não tenho homossexuais na família, nem entre os meus amigos, mas polígamos, muçulmanos ou não, conheço umas boas dezenas. Se toda esta massa poligâmica desata a querer casar, receio que os notários fiquem com as falangetas em carne viva, de tanto redigirem contratos de união civil. Mas, felizmente, confio que os polígamos sejam, também eles, sensíveis à mais elementar lógica: a poligamia é uma relação entre uma pessoa e várias outras de sexo diferente. A reivindicarem a legalização das suas uniões, fá-lo-iam a propósito do casamento entre pessoas de sexo diferente, com o qual têm mais afinidades. A menos que se trate de poligamia entre pessoas do mesmo sexo. Mas, segundo o Presidente do Irão, parece que entre os muçulmanos não há disso."
Ricardo Araújo Pereira, Visão

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"A minha vida é monótona"; "O que o Dr. Freud diz tanto me faz"; "5% de leitores é quanto basta"

O escritor japonês entrevistado pela sua tradutora portuguesa (entrevista publicada no jornal i). Entrevista interessante, onde fala uma vez mais no TÃO aguardado romance 1Q84 ainda não disponível em português.

Haruki Murakami gosta de escrever e gosta de correr - o seu novo livro, "Auto-retrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo", publicado este mês em Portugal, é prova disso mesmo. Apesar de não cultivar o isolamento de outros autores, também gosta de se fechar em casa a ler livros e a ver episódios da série "Perdidos" (gravados precisamente na ilha de Kauai onde escolheu viver partes do ano). O que não gosta é de responder a perguntas: "O autor deve ser a última pessoa a falar sobre a sua obra", justifica. Arrancar-lhe uma entrevista é, portanto, uma raridade: "Haruki está concentrado a escrever o novo romance e não tem aceitado dar entrevistas. Mas como este é um pedido especial, ele quis colaborar", explicou por email Yuki Katsura, a assistente, avisando ainda que Murakami não teria tempo para respostas longas. Em relação ao novo romance, "1Q84", que acabou de ser publicado no Japão, Murakami disse à sua tradutora (aqui na pele de entrevistadora) que quer vê-lo em português: "E espero que seja aceite calorosamente (com fervor, de preferência). Espero ainda visitar o vosso país numa próxima ocasião.
"João Céu e Silva escreveu no "Diário de Notícias" acerca deste novo livro: "Quando se chega ao fim, fica a curiosa sensação de que entrámos num mundo inesperado do japonês e que um dia destes ele brindará os seus leitores com a verdadeira autobiografia completa." Os leitores podem contar com isso?
Não creio que algum dia vá escrever a minha autobiografia, uma vez que a minha vida (até à data) é bastante monótona. Levanto-me de manhã cedo e trabalho cinco ou seis horas, depois corro (ou nado) durante uma hora, e vou para a cama bastante cedo. Estou casado com a mesma mulher há 37 anos. Faço colecção de velhos LP de jazz. Não vejo que razão possa ter para descrever esta minha vida, sem nada de extraordinário, e correr o risco de provocar bocejos nas outras pessoas. Mas um dia destes terei qualquer coisa a dizer acerca da escrita propriamente dita.
Considerando a forma - um livro de memórias -, registaram-se mudanças significativas no processo criativo, ou foi apenas trabalhar no duro e suar como de costume?
A pergunta refere-se à forma do livro? Ou ao exercício propriamente dito? O que quis dizer neste livro foi o seguinte: para se produzir uma obra consistente, poderosa, tem de se ser fisicamente forte e estar em boa forma física. É essa a minha teoria. Quando se é muito novo, ou quando se é um génio, não é preciso fazer exercício. Um escritor limita-se a escrever. Até aí, tudo bem. Não perde o seu tempo com mais nada. Mas quando já não se é tão jovem nem tão genial quanto isso, o corpo torna-se um companheiro importante. Ajuda, tanto física como mentalmente, sobretudo a manter a cabeça desanuviada e a mente activa.
Como define a sua relação com os críticos, que por vezes tendem a associar à sua obra rótulos como pós-moderno, surrealista, ecléctico, pop?
Sou um romancista. Escrever livros é a minha profissão. E acredito que o autor deve ser a última pessoa a falar sobre a sua obra. Por isso, deixo que sejam os outros a tecer considerações acerca do meu trabalho. Algumas pessoas dizem coisas razoáveis, outras não; o problema é delas e não meu. Pela parte que me toca, continuo a escrever, e isso é o mais importante. Espero escrever o que outros não são capazes de escrever, ou não se atrevem a escrever. Será provavelmente a isto que chamam "originalidade". E, por vezes, a originalidade tem o condão de irritar certas pessoas. Não é minha intenção provocar essa irritação, escusado será dizer, mas, tal como já disse antes, o problema é definitivamente deles, não meu.
O terceiro volume de "1Q84" será publicado no Japão em Maio de 2010. Já disse que era "o maior e o mais ambicioso". Assassínio, história, cultos religiosos, laços familiares, amor. Apesar do segredo que envolve o romance, pode revelar-nos mais?
Gostava de lhe chamar "um romance completo" ou "um romance total", uma vez que contém quase tudo dentro dele. Por outras palavras, foi concebido como um microcosmo. Não tem aquilo a que se chama um "tema". É apenas um romance, uma história e, se resultar bem junto dos leitores, significa que eles se irão ver perdidos na densa floresta engendrada pela própria história e por lá vão andar, por sua conta e risco. É isso que pretendo. Que vocês, leitores, andem por ali sozinhos e perdidos, mas que no fim acabem por ser salvos, de certa maneira. Mais ou menos...
"1Q84" é um calhamaço. Philip Roth, eterno candidato ao Nobel, em entrevista recente ao "Guardian", afirmou que cada vez parece existir menos capacidade de concentração para ler um romance devido aos computadores e à televisão. Num cenário destes, o que continua a inspirar Haruki Murakami a escrever romances?
Se o livro for suficientemente bom e poderoso, e suficientemente apelativo, as pessoas vão lê-lo e irão gostar do que lêem. Estou de acordo com Mr. Roth em muito do que ele diz, mas acredito no poder dos livros, no poder das histórias dos últimos três mil anos. É preciso ter uma certa confiança nessa matéria. Computadores? Existem há quê? Pouco mais de duas décadas, não é verdade? Se cinco por cento da população ler livros com regularidade, gostar verdadeiramente de ler, só isso já será fantástico. Nós (escritores) podemos continuar a viver porque sabemos que eles estão lá. Deixem lá os restantes noventa e cinco por cento das pessoas ver a televisão que quiserem ou entreterem-se com jogos de computador até à exaustão. Não importa. Cinco por cento de leitores é quanto basta.
Que música é que ouve quando não está a escrever, altura em que só tem por hábito prestar atenção ao som produzido pelo teclado?
Música clássica de manhã, jazz da parte da tarde e à noite. Enquanto conduzo, quase sempre rock. É uma grande ajuda. Devo muitas coisas à música. Refiro-me à boa música, claro. Mas quando estou realmente concentrado na escrita, não oiço nada.
Este ano visitou Espanha a fim de receber o Prémio San Clemente. Passou um dia na companhia de jovens entre os 16 e os 18 anos que parecem ávidos de o ouvir e ler. Tem consciência disso?
Fico verdadeiramente satisfeito por saber que os jovens na Europa (ou em qualquer outra parte do mundo) adoram ler os meus livros. Encaro isso como uma espécie de milagre. A verdade é que confesso a minha ignorância quanto às razões que os levam a ler-me com tanta avidez, uma vez que não sei quase nada acerca da juventude nos dias que correm, mas parto do princípio de que partilhamos histórias. Histórias são metáforas. E nós precisamos de boas metáforas para sobreviver neste mundo duro e cruel. As teorias não funcionam, os variados "ismos" (seja o comunismo ou o mercado livre, market-ism, e outros que tais) não surtem efeito na prática, as Nações Unidas não funcionam, os computadores estragam-se, os pais são estúpidos, os professores são idiotas, a escola não presta (tem dias), mas a metáfora cumpre a sua função. Tanto no que toca aos adultos como aos jovens.
Como tradutora, perguntam-me ainda hoje muitas vezes como traduzi o capítulo 16 de "Kafka à Beira-Mar", com todo aquele sangue à mistura. O Haruki disse em tempos: "Quando estou a escrever, não penso. Não sei se [as personagens] são boas ou más." Continua a pensar o mesmo?
Quando me encontro a escrever histórias, viajo até lugares sombrios, para não dizer até aos lugares mais obscuros. Em sítios desses, não é fácil, para não dizer que por vezes se torna impossível, dizer o que é bom e o que é mau. O que é certo e o que é errado. No entanto, quando nos apanhamos de volta à superfície, que é como quem diz, a este mundo, temos de decidir se queremos ter uma vida como deve ser. Como tal, somos obrigados a levar uma vida dupla - uma vida profunda e uma vida superficial. Pode chamar-se a isso uma existência dividida. E a experiência ameaça revelar-se bastante perigosa. A nossa personalidade pode ficar dividida para sempre. Quero com isto dizer que uma pessoa tem de ser suficientemente forte. Dito de outro modo, é preciso correr.
Sempre me impressionou o seu entendimento do mundo feminino. Freud diz que um homem só é capaz de amar na medida em que "possui uma vida emocional feminina". Como é que se analisa diante do espelho?
Costumava sentir-me pouco à vontade quando escrevia personagens femininas, comparado com o que sentia quando me punha a escrever personagens masculinas. Contudo, recentemente, dei por mim a gostar cada vez mais de escrever sobre mulheres. De certa maneira, é como se me sentisse capaz de me pôr na pele delas, por assim dizer. E isso é muito importante para mim enquanto escritor. O que o Dr. Freud diz tanto me faz.
Afecta-o de alguma maneira ver o seu nome referido ano sim, ano não, como potencial candidato ao Prémio Nobel da Literatura?
Os bons leitores são os meus verdadeiros prémios e as medalhas dignas desse nome. As outras coisas... não passam disso mesmo. Ou se percebe isto ou não se percebe. Não tem importância.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Chapéus há muitos...

"A melhor bailarina de sempre"

A primeira bailarina da Companhia Nacional de Bailado, Ana Lacerda, é a protagonista do número de estreia da nova revista masculina portuguesa, Urban Man.

Dirigida por Tiago Galvão Teles, a nova publicação terá uma tiragem de 50 mil exemplares, todos os meses, com um preço de capa inicial de 1 euro.

A ideia da revista é "apresentar sempre mulheres com uma carreira, com provas dadas na sua área e com idades acima dos 30 anos", definiu ao DN, Tiago Galvão Teles, rejeitando o cariz de revista para o macho man.
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Alegando que a maioria das publicações masculinas no mercado apresentam um conceito redutor - "mulheres seminuas em cima de carros, mulheres seminuas ao lado de gadgets" -, o mesmo responsável defende para a Urban Man um território onde a "mulher despe mais a alma do que propriamente o corpo, revelando a sua essência". "É uma revista para homens, que trata bem as mulheres", remata Tiago Galvão Teles.

Colaboradores de renome compõem a equipa editorial: Carlos Câmara Leme (livros); Francisco Sá da Bandeira (viagens); João Murillo (pintura); José Braga Gonçalves (Portugal e seus segredos); Raquel Prates (moda); Sofia Sá da Bandeira (crónica livre); Álvaro Mendonça (economia); Eduardo Barroso (futebol e medicina).

No número de estreia, destaque ainda para entrevista ao empresário da moda Tó Romano, entre outras matérias "interessantes".
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Fonte: Diário de Notícias [adaptado]

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Save the date

Aqui fica o texto que me valeu um convite duplo para o CCB...
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O que significa a matriz da música portuguesa?
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A matriz da música portuguesa traduz os primórdios da nossa alma, do nosso sentir, do nosso ser, do nosso Portugal profundo. O seu panorama é composto por cantilenas, cantigas de trovadores, canções tradicionais, sempre carregadas de um romantismo muito nosso ou, pura e simplesmente, o registo da nossa (interessante) forma de viver e sentir. Temos, assim, o vira, o malhão, o corridinho, o fado castiço, o fado canção e a canção urbana.
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Tudo aquilo é-nos oferecido no último trabalho de Teresa Salgueiro, "Matriz". Com efeito, o CD abraça a música antiga (desde o séc. XIII com letras de D. Dinis e João Zorro, ainda em português arcaico), música popular e tradicional (com diversas músicas de domínio popular, algumas delas sem qualquer registo até à data, passando pelo Fado) e, finalmente a música contemporânea (Carlos Paredes, Fausto, Fernando Lopes Graça).
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Sem dúvida que foi efectuado um valiosíssimo trabalho de recolha do nosso património musical já esquecido, o que confere ao disco um inestimável valor documental (nota especial para "Senhora do "Almurtão", Vira da Desfolhada", "Malhão de Cinfães" e "Canção da Roda"), sem esquecer as músicas contemporâneas, com destaque para "Por este rio acima" do Fausto.
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Por tudo isto, um grande bem-haja.

Mancha verde

domingo, 22 de novembro de 2009

Direitos dos leitores


1- O Direito de não ler
2- O Direito de saltar páginas
3- O Direito de não acabar um livro
4- O Direito de reler
5- O Direito de ler não importa o quê
6- O Direito de amar os “heróis” dos romances
7- O Direito de ler não importa onde
8- O Direito de saltar de livro em livro
9- O Direito de ler em voz alta
10- O Direito de não falar do que se leu

sábado, 21 de novembro de 2009

_._._._._

Ao que parece, Nicolas Sarkozy pretende trasladar os restos mortais do escritor Albert Camus para o Panteão francês, em Paris (onde já estão Voltaire, Rousseau e Émile Zola). Apesar de ser necessária a autorização prévia da família do escritor, falecido em 1960, a iniciativa do Presidente francês terá tido como ponto de partida um encontro com a filha de Camus, no final de 2007, por altura dos 50 anos da atribuição do prémio Nobel da Literatura.

Os últimos escritores a serem trasladados para o Panteão foram André Malraux, em 1996, e Alexandre Dumas, em 2002, ambos por iniciativa do então Presidente, Jacques Chirac.

Daqui a nada é daqui em diante

DAQUI EM DIANTE (2006)
Companhia Olga Roriz
Foto de Rodrigo de Souza
Nesta foto: Pedro Santiago Cal

A partir da obra "Worstward Ho" de Samuel Beckett.

(...)
Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.
(...)

Álvaro de Campos
Tabacaria [Excerto]

Nortada

Reminiscências de um espectáculo que extravasou o palco...


NORTADA
Companhia Olga Roriz (2009)
Foto de Rodrigo de Souza
Nesta foto: Catarina Câmara

(...)
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
(...)


Fernando Pessoa

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Giselle

Aqui fica o making of da sessão fotográfica para a campanha de comunicação do Programa de Dez. 09 da CNB "Giselle", com o fotografo André Brito e a Bailarina Principal Ana Lacerda

Get out!!!

...desenha-me uma ovelha...


É com enorme satisfação que anuncio que em breve estará disponível nas livrarias um novo livro com inéditos do autor de O Principezinho!!!

O livro a publicar pela Casa das Letras reúne um conjunto de textos inéditos de Saint-Exupéry, escritos entre 1925 e 1943: primeiras narrativas (Manon, dançando), prelecções, memórias de infância e da aviação, cartas diversas, fragmentos de Correio do Sul e de Voo Nocturno. Pelo meio, encontramos meditações sobre o que pode conferir sentido à viagem e nos ligar ao lugar de onde vimos. Estes textos ajudam a aproximar-nos da sensibilidade, das dúvidas morais e da obra de Saint-Exupéry.
A ler com a cabeça no Asteróide B612... ;-))))

Índice:
Manon, dançando
O Aviador
Em torno de Correio do Sul
Em tornode Voo Nocturno
Ao fim do dia fui ver o meu avião
O Piloto
Pode-se acreditar nos homens
Sete cartas a Natalie Paley

Se por acaso (me vires por aí)



Se por acaso (me vires por aí)
[dueto com Luanda Cozetti]

Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer

Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão

E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor

Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papeis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora

E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor

Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim

E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor

Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu fato azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz

E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

dia nacional do MAR

Celebra-se hoje o Dia Nacional do Mar.
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Aqui fica a minha homenagem: a canção O Mar, dos Madredeus, cantada ao vivo, com uma coreografia de Benvindo Fonseca para o extinto Lisboa Ballet Contemporâneo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

os livros são para ler?!?

es-tu-pen-do!

vou tentar fazer o mesmo com uns volumes das Selecções do Readers Digest... ;-)


http://photopeach.com/album/16lhk80?ref=est

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

... se calhar, também não

Fotografia de Artur Lourenço

“Vivo em Lisboa como se vivesse no fim do mundo, ou num lugar que reunisse vestígios de toda a Europa. A cada esquina encontro reminiscências doutras cidades, doutros encontros, doutras viagens. Aqui, ainda é possível inventar uma história e vivê-la. Ou ficar assim, parado, a olhar o rio e fingir que o Tempo e a Europa não existem - e Lisboa, se calhar, também não.”

Al Berto in O Anjo Mudo
ed. Assírio & Alvim, Lisboa, 2000

...o longe está sempre onde esteve


(...)
Nada perdeu a poesia. E agora há a mais as máquinas
Com a sua poesia também, e todo o novo gênero de vida
Comercial, mundana, intelectual, sentimental,
Que a era das máquinas veio trazer para as almas.
As viagens agora são tão belas como eram dantes
E um navio será sempre belo, só porque é um navio.
Viajar ainda é viajar e o longe está sempre onde esteve
Em parte nenhuma, graças a Deus!
(...)

Ode Marítima [excerto]
Álvaro de Campos, in "Poemas"

sábado, 7 de novembro de 2009

_____

(...)

"E então me invade uma saudade
Dum misterioso passado meu
Em que houvesse tido um outro sentido
Que me falta pra ser, não sei como...EU..."

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

mais um para devorar... :-)

a partir de hoje nas livrarias!!

domingo, 1 de novembro de 2009

Acerca dos livros mal-amados

Eu que tenho uma tendência para não gostar de best-sellers (apenas pelo facto de o serem) e desconfiar da generalidade dos livros que ocupam teimosamente os tops durante mais que 2 semanas, a crónica semanal do José Luís Peixoto na Time Out caiu-me que nem ginjas…
“(…) Existe um mundo que pertence apenas aos livros de que ninguém fala. É feito de tudo, como o outro mundo, como este, e, às vezes, é feito de uma descoberta íntima, uma aldeia fora do mapa, uma casa a que se regressa mesmo que seja pela primeira vez. Como um segredo.

É bom apaixonarmo-nos, recebermos tudo quando nos oferecemos. Os livros de que ninguém fala exigem-nos apenas isso: paixão, que sejamos capazes de acreditar, de tentar mais uma vez e sempre.”

José Luís Peixoto, in Time Out, n.º 109

sábado, 31 de outubro de 2009

Chéri de Colette

A Presença acaba de reeditar o romance de Colette, "Chéri", com tradução de José Saramago, aparecida inicialmente sob a chancela dos Estúdios Cor. Surge no contexto da estreia da adaptação ao cinema, o que inspirou a capa (péssima em meu entender). Com efeito, a capa é vulgar e só poderá ter como propósito apelar aos instintos mais básicos…. Enfim, técnicas de marketing actual, fácil e de mau gosto.
Ora vejam:
Chéri, romance publicado em 1920, aborda o delicado tema da sedução amorosa entre uma bela cortesã a caminho da meia-idade e um adolescente mimado. Chéri, de uma cálida voluptuosidade, rompe com os cânones da época - ele com as suas infantilidades e pequenos amuos, é quem se deixa amar.

Ela, uma mulher experiente, aceita com serenidade o prazer que ele lhe proporciona e não descura nenhum pormenor da sua educação amorosa.

Colette (1873-1954) é considerada uma das mais notáveis escritoras e mulheres da primeira metade do século XX.

A ensaiar...



Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento....

Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

Este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

Ary dos Santos

[obrigado à Ana Lacerda pela partilha]

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nortada

A CNB convida a Companhia Olga Roriz a estrear em Lisboa, no Teatro Camões, a sua mais recente coreografia, Nortada.

Nortada é um espectáculo sobre as memórias dessa minha terra onde nunca vivi mas que guardo os mais fortes momentos de infância e adolescência.
Tudo nessa terra me é familiar apesar de tanta ser a distância e maior ainda a ausência.
Foi exactamente nesse lugar de confronto entre a incontornável distância e a profunda proximidade afectiva que nasceu, se desenvolveu e construiu esta peça.
Nortada situa-se num lugar invadido de nostalgia, de saudade, de intimidade.
Cada memória feita imagem é carregada de um simbolismo quase inocente como o olhar dessa criança que fui.
O cenário que nos reporta a dois espaços distintos, um exterior e outro interior está ao longo de toda a peça deliberadamente concentrado numa sala de jantar. Nesse local onde invariavelmente a família se junta.
Tudo nasce e se desenvolve a partir de uma refeição para no fim voltar a ela como um círculo sem fuga e aparentemente perfeito apesar de todas as vicissitudes.
Este espectáculo não teria sido possível sem o dedicado trabalho de observação e a capacidade de análise dos meus bailarinos perante uma tão complexo e delicado projecto.

Olga Roriz

29, 30 e 31 às 21h

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"então, porque não voas?"

Sérgio Godinho
A noite passada


A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti, "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

[...]

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dança criativa e movimento contemporâneo


Adultos:
Movimento Contemporâneo e improvisação
(Nível Intermédio)
Outubro 7, 14, 21, 28
4ª feira das 20h30/22h30
no estúdio ACCCA (Bairro Alto)
Preço: 35 euros/mês
Aula avulso: 10 euros
Inscrições: anasantosnovo@gmail.com
Movimento Contemporâneo e improvisação
(nível Aberto)
3ª feira das 19h/20h
na Academia DanceSpot (Lumiar)
Informações: http://www.palcoplural.com/
Crianças:
Ateliers Dança criativa

11 Outubro e 15 Novembro
3 - 6 anos das 10h/11h
7 - 10 anos das 11h30/12h30
na Nextart - Espaço Azul
Preço: 10 euros sessão
Informações e inscrições: http://www.next-art.net/
http://www.next-art.net/index.php?p=espaco_azul/actividades/ateliers/danca_criativa
Pais e Filhos
Movimento criativo para pais e filhos

(2 - 4 anos)
na Dance Spot
3ª feira das 18h15/19h
Informações: http://www.palcoplural.com/
Movimento contemporâneo
(8 - 12 anos)
5ª feira das 18h/19h
Informações: http://www.palcoplural.com/

Hoje estou...

.
... folheando o ar com a boca sem encontrar a página em que se respira

António Lobo Antunes
Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Four reasons

Four reasons
Coreografia de Edward Clug
Com Ana Lacerda e Fernando Duarte, entre outros.

Para ver até dia 18 de Outubro no Teatro Camões.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

À flor da pele

Entrevista a Rui Lopes Graça no Teatro Camões a 16.Maio.09
À Flor da Pele
Coreografia de Rui Lopes Graça
Música Philip Glass



"(...) a dança é indizível.. Se não fosse indizível, era inútil haver dança."

Rui Lopes Graça


A ver, a sentir, a reflectir!!!

Uma palavra: maravilhoso!!!

You've got the love

INÚTIL Revista


Está para muito breve o lançamento da tão aguardada revista INÚTIL Revista.

Onde: Livraria Ler Devagar, LX FACTORY
Hora: Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009, 22h

Coordenação editorial: Maria Quintans
Direcção fotográfica e produção: Ana Lacerda
Concepção/direcção de arte: João Concha


Aqui fica o primeiro (útil) editorial:

INÚTIL pretende ser um terreno onde a experimentação do registo poético passe pelos ângulos, escadas, esquinas, becos e afagos da expressão artística, desconstruída pelas duplas mãos da palavra e da imagem. O inútil desmultiplica-se em processo de pensamento, na conversa desfocada entre a lente do fotógrafo, a curva da estrada, a imagem encurralada no papel da viagem até ao interior da página.

Começa assim a vida de uma espécie Inútil, desintegrada em imaginárias matérias. As piruetas fazemo-las nós, a três dimensões, em traços construídos de margens e desenhando letras suspeitas de deslizes triangulares. No sofá estendemos circularmente a poesia, a prosa poética, o ensaio, o desenho, a fotografia, a colagem, o movimento, costurados em diálogos cúmplices com a linha do conceito temático de cada número. A periodicidade é inútil, ainda que assuma agora a forma quadrimestral.

Pretendemos acordar sem nos lembrarmos dos sonhos. Crescer em plataformas de rasgões de luz, como o lado contrário do útil, que se perde sempre em registos demasiado fáceis de conceitos literários esvaídos. Rascunha-se o tema como corpo começado e inutilmente deixado ao relento para que se descole a pele e se rasguem os princípios do preto e branco geométrico da arte transformada na coisa inútil que será sempre. INÚTIL é um ensaio onde a ilusão pode ser sempre o vibrato do olhar.

Agora, fechemos os olhos e comecemos a ilustrar a porta de um dos mortais pecados assinados por aqui. Que seja a ira a pulsação INÚTIL do primeiro número.

Foi em Novembro que partiste…

Brevemente será possível adquirir o livro “Foi em Novembro que partiste…” do poeta Hugo Roque, o qual já foi merecedor de destaque no JL, bem como num debate na Casa Fernando Pessoa.
A aguardar... e a ler com prazer...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

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Falsa modéstia ou singela humildade são as duas possíveis formas de classificar o que Erlend Oye dos Kings of Convenience disse ao ípsilon (a publicar na próxima sexta-feira, dia 9).

Sim, a melancolia está presente na nossa música.
Mas não somos grandes conhecedores de música. Nem de bossa nova, nem de nada em geral. Não somos grandes consumidores de música.

De relembrar que o mais recente álbum (Declaration of Dependence) foi editado no passado dia 2 e que se esperam os seguintes concertos:

2 de Novembro: Theatro Circo, Braga.
4 de Novembro: Coliseu dos Recreios, Lisboa.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Lisboa em diários


São vários os blogs que circundam o universo da fotografia, designadamente a área de streetwear.

Hoje deixo aqui o meu reconhecimento especial por um blog cujo âmbito extravasa largamente o conceito de streetwear. Aparentemente, as fotos publicadas servem apenas a vontade do Artur Lourenço num determinado momento, não obedecendo a nenhum conceito rígido. Depende de onde está e do que lhe chama a atenção.

Tanto podemos encontrar fotos da sombra projectada por uma cadeira, como o azul do céu, ou a foto da rapariga que antes de sair de casa ousou calçar “aqueles” sapatos, ou até mesmo de algumas caras mais ou menos conhecidas da praça (na minha opinião, estão são as fotos menos interessantes do blog e que lhe retiram algum romantismo e misticismo... muito mais interessantes as fotos do sr. da pastelaria ou da retrosaria…).

Aqui ficam algumas fotos que fazem parte do Diário de Lisboa. A visitar diariamente!

Sonho de uma noite de Verão

O vídeo apresenta um excerto de Midsummer Night's Dream, onde a Ana Lacerda (acompanhada por Fernando Duarte) nos presenteia com a sua imagem repleta de beleza e delicadeza, mas também de generosidade técnica (a meu ver, irrepreensível).
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Enfim, um bom exemplo que ilustra o que a revista Máxima escreveu há uns tempos…:
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«Abre-se o pano e os holofotes iluminam a imagem longilínea de bailarina. Por detrás da figura delicada, quase etérea, de Ana Lacerda, vemos uma mulher tenaz, persistente e muito exigente consigo própria. O turbilhão de emoções que irradia dos seus olhos amendoados traduz-se mais facilmente em movimentos. E é o que leva para o palco como valor acrescentado a uma técnica mais que apurada...»
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Parabéns!

Mafalda, a personagem de BD idealizada pelo argentino Quino celebra hoje 45 anos.

Os meus livros

A revista Os Meus Livros já está disponível na blogosfera.

O "guia da boa leitura" pode ser espreitado em

Boas leituras :-)

Tem 3 tentativas...

capa do ípsilon da próxima 6.ª-feira

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Give me that slow knowing smile

CNB: a viagem continua...

Após Coimbra, Bragança e Açores, a CNB continua a “Dançar o País”… A próxima aparição acontece já no dia 2 de Outubro em Aveiro (Teatro Aveirense).

Uma óptima oportunidade para ver ou rever (será o meu caso, lá estarei!!!) um magnífico conjunto de 3 peças…

Eis o programa:







À FLOR DA PELE

procuro um rasto de ti.

à flor da pele tropeço nos passos cansados.
à flor da pele trémulo e exausto
tapo todos os poros.
à flor da pele amordaço a esperança.
à flor da pele nado no suor derramado
lamento, encolho e sorvo a fraqueza.
à flor da pele conspiram lugares e olhares
mostro-me nu, estrangulo e mordo a inocência da carne.
mato!

à flor da pele, quebro e morro mais um pouco.
à flor da pele, procuro um rasto de ti.

(Rui Lopes Graça)

CONCERTO

Concerto, construído a partir de uma peça para cravo de J. S. Bach, é um bailado coreografado para três bailarinos e uma bailarina, em torno de uma mesa imponente, único ponto fixo como vórtice das dinâmicas e das tensões dos corpos.

A complexa relação das personagens resulta obviamente da variedade dos tempi de Bach: ora implacáveis e rápidos ora lentos e dilatados, numa explosiva mistura de aceleração de energia com lacerantes encontros passionais.
(Marco Cantalupo)

STROKES THROUGH THE TAIL

O misterioso título desta coreografia deve-se ao facto de Marguerite Donlon ter lido, num prefácio numa das edições da Sinfonia nº 40 em sol menor KV 550 para piano de Mozart, que este compositor imprimia traços (strokes), com a sua pena, sobre as notas musicais da partitura manuscrita, para indicar a forma particular de as interpretar. Esses traços cruzavam, em alguns pontos, as hastes (tails) da oitava e décima sexta notas.
A palavra tail em inglês refere-se igualmente à parte de trás de uma casaca (tailcoat) que nesta coreografia assume um papel da maior importância.
Munindo-se de casaca e tutu, Marguerite Donlon demonstra o modo como facilmente ligamos objectos indefesos com o conceito tipicamente masculino ou tipicamente feminino. Ou melhor, como rapidamente apreendemos um objecto como inadequado quando utilizado fora do seu contexto habitual.
Contudo, Strokes Through The Tail demonstra-nos que um homem em tronco nu, vestindo um tutu, pode tornar-se não só verdadeiramente cómico, como também marcadamente sensual. O mesmo se aplica no caso da mulher vestida de casaca. Marguerite Donlon (…) a destemida coreógrafa irlandesa está a romper as barreiras que dividem a dança e o cidadão comum. O seu trabalho afasta-se de qualquer ideologia artística e é incapaz de se tornar fastidioso. Lançando uma ponte entre clássico e cómico, avant-garde e o teatro de fantoches, é de tal modo divertido que os entusiastas desta bailarina, outrora pertencente à Companhia de Peter Schaufuss e à Ópera de Berlim, acusam-na de fazer as suas obras demasiado pequenas.

(Arnd Wesemann)