domingo, 30 de novembro de 2008

Insustentável leveza


The Weight Of My Words

There are very many things
I would like to say to you,
but i've lost my way
and I've lost my words.
There are very many places
I would like to go
but I can't find the key
to open my door.
The weight of my words
-you can't feel it anymore.
The weight of my words
-you can't feel it anymore.
There are very many ways
I would like to break the spell
you've cast upon me.
Because all the time
I sacrificed myself
to make you want me,
has made you haunt me.
The weight of my words
-you can't feel it anymore...

*****


«Quem pudesse gritar para despertarmos! Estou a ouvir-me gritar dentro de mim, mas já não sei o caminho da minha vontade para a minha garganta.»

Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Apogeu & Declínio

«Cada ser humano atinge o seu apogeu de maneira diferente, num dado momento. Uma vez alcançado esse ponto alto, é sempre a descer. (…) E o pior é que ninguém sabe onde é que se situa o seu próprio auge. A linha divisória pode desenhar-se de repente, quando uma pessoa pensa que ainda estava a pisar terreno seguro. (…) Alguns atingem esse pico aos doze anos, e depois espera-os uma vida perfeitamente monótona e sem chama. Outros continuam sempre em ascensão até à morte; outros morrem no seu máximo esplendor. Muitos poetas e compositores vivem em estado de permanente arrebatamento e estão mortos quando chegam aos trinta anos. Depois há aqueles, como é o caso de Picasso, que aos oitenta e muitos anos ainda pintava quadros cheios de vigor e teve uma morte tranquila, sem saber o que era o declínio.»

Haruki Murakami, in Dança, Dança, Dança

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pina Bausch




«Quando saímos, se está a nevar e tudo se pôs branco, ficamos sós, sentimo-nos sós. Se o sol estiver a brilhar, talvez não. Mas nada garante que aquilo que o outro sente seja equivalente ao que nós próprios sentimos. Quanto à mensagem, não sei... Não há mensagem. A melhor coisa é deixar a intuição e a imaginação agirem. É verdade que eu quero dizer com força qualquer coisa difícil de formular, qualquer coisa de escondido; mas são os espectadores que têm de o descobrir, senão tudo seria tosco e grosseiro; são vocês que têm de o descobrir, eu não posso proceder demasiado directamente. Frente a certos valores, é preciso, acima de tudo, sensibilidade.»

Pina Bausch, in Falem-me de Amor

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

David Crocket

«E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.»

«Foi um processo longo e difícil, como sempre o são as aproximações entre duas pessoas habituadas a estarem sozinhas. Primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que parece instalar-se onde dantes estava a intimidade. É preciso saber passar tudo isso e conseguir chegar mais além, onde a cumplicidade - de tudo, o mais difícil de atingir - os torna verdadeiramente amantes.»
Miguel Sousa Tavares, in Não te deixarei morrer, David Crocket

A banda sonora de uma utopia

«É uma característica de autores que já vem desde os Heróis do Mar: prefiguramos um mundo ideal – um mundo que foi profetizado por falantes em português, sem prisões nem castigos, em que o Homem é fraterno e se respeita – e compomos canções para a rádio desse mundo»

«Não é que eu acredite nessa profecia, mas acho uma boa ideia trabalhar para ela»

Pedro Ayres Magalhães (a respeito dos recitais de Madredeus & A Banda Cósmica)

Ainda bem!

domingo, 23 de novembro de 2008

POPlastik

Pop Dell' Arte, POPlastik (2006)

Prima Ballerina

«Abre-se o pano e os holofotes iluminam a imagem longilínea de bailarina. Por detrás da figura delicada, quase etérea, de Ana Lacerda, vemos uma mulher tenaz, persistente e muito exigente consigo própria. O turbilhão de emoções que irradia dos seus olhos amendoados traduz-se mais facilmente em movimentos. E é o que leva para o palco como valor acrescentado a uma técnica mais que apurada...»

Máxima

sábado, 22 de novembro de 2008

Auto-retrato

«Pinto auto-retratos porque estou frequentemente só, porque sou a única pessoa que conheço bem»

Frida Kahlo
1907 – 1954





quinta-feira, 20 de novembro de 2008

... os passageiros da noite ...

[…]

- Sabes o que te digo? - prossegue ela. - Quer-me parecer que as recordações são o combustível que permite às pessoas continuarem vivas. Agora, se essas recordações têm ou não de facto alguma importância concreta, isso pouco ou nenhum significado tem desde que as funções vitais estejam asseguradas. É apenas o combustível, mais nada. Anúncios nos jornais, livros de filosofia, revistas cheias de pornografia, um grosso maço de notas de dez mil ienes: quando deitas um fósforo e lhe chegas fogo, não passa tudo de papel. O fogo, enquanto arde, não pensa: "Oh, isto é Kant!" Ou: "Oh, um artigo na edição da tarde do jornal Yomiuri", ou ainda: "Ena, mas que belas mamas!" […]

Korogi faz uma sinalefa de concordância para si mesma, antes de prosseguir.

- Sabes, acho que se não tivesse esse carburante para queimar, se não tivesse essa tal gaveta cheia de recordações dentro de mim, há muito que me teria deixado ficar caída no fundo de alguma valeta e deixado morrer. Só porque posso trazer à luz do dia as memórias que essa tal gaveta encerra […] é que me aguento no balanço e consigo levar por diante o pesadelo que representa esta vida.

[…]

Haruki Murakami, Os Passageiros da Noite [excerto]

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Parabéns!

O rato Mickey faz hoje 80 anos!!

A personagem de Mickey nasceu a 18 de Novembro de 1928, e a sua reprodução vocal era desempenhada pelo próprio Walt Disney (entre 1928 e 1946). Evoluiu de uma simples personagem de cartooning e tiras cómicas para uma das personagens mais conhecidas do mundo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Máscara















[...]

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


[...]

Álvaro de Campos, Tabacaria (excerto)

Sol nascente

A I Feira do Livro do Museu do Oriente vai proporcionar ao público a possibilidade de adquirir, a preços convidativos, os títulos que constam do catálogo de edições da Fundação Oriente e que são testemunho de duas décadas de trabalho na área da edição. Trata-se de um conjunto de obras dedicadas ao estudo da presença da língua, cultura e história dos Portugueses na Ásia, de edições críticas de fontes históricas ou de traduções para chinês de textos relevantes da literatura e história portuguesas.

Museu do Oriente
14-30 Novembro
10:00-18:00

Vozes

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Insólitos

Um homem partira de uma aldeia para fazer fortuna. Ao fim de 25 anos, rico, regressara casado e com um filho. A mãe dele, juntamente com a irmã, tinha uma estalagem na aldeia. Para lhes fazer uma surpresa, deixara mulher e o filho noutra estalagem e fora visitar a mãe, que não o reconheceu. Por brincadeira, tivera a ideia de se instalar num quarto como hóspede. Mostrara o dinheiro que trazia. De noite, a mãe e a irmã tinham-no assassinado à martelada e atirado o corpo ao rio. No dia seguinte de manhã, a mulher do desgraçado viera à estalagem e revelara, sem saber, a identidade do viajante. A mãe enforcara-se. A irmã atirar-se a um poço. Devo ter lido esta história milhares de vezes. Por um lado era inverosímil, por outro lado, era natural. De todos os modos, achava que o viajante merecera até certo ponto a sua sorte, e que nunca se deve brincar com estas coisas.
Albert Camus, O estrangeiro [excerto]

Outono








Castanheiros em terras de Bragança...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Há dias em que mais vale

Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas

Há dias
Em que cada passo é mais um
Castigo de Deus
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus

À noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p’ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro
[…]

(Letra de João Monge)

domingo, 9 de novembro de 2008

O regresso

Sexta-feira, 7 de Novembro, 21:30h
Teatro Ibérico, Lisboa

Os renovados Madredeus regressaram ao Teatro Ibérico para a apresentação do novo CD, Metafonia. A curiosidade de ver a apresentação ao vivo era muita. Nova formação, novos instrumentos, novas vozes. A (ainda) falta de certezas quanto à nova formação, sonoridade e, acima de tudo, ausência da Teresa Salgueiro em palco, provocaram algum receio e ansiedade…

Mas o recital na antiga igreja foi uma grande e reconfortante surpresa. A dupla Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade (autores e compositores da totalidade das canções apresentadas) surpreendeu e foi agraciada com entusiásticas salvas de palmas no momento das apresentações dos músicos.

Ao vivo, as músicas ganharam uma nova alma (para a qual o local de apresentação não foi alheio) e apaziguaram os maiores receios da sala. Excelente concerto.

O alinhamento apresentado incluiu não só a totalidade das canções do CD (19), mas também algumas surpresas adicionais, novas versões de músicas (4) da anterior fase do grupo, bem como 2 originais.
Referências especiais às interpretações de Uma caipirinha, Inventar (meditar no contratempo), A comunhão das vozes e A estrada da montanha. No que se refere aos clássicos, as versões de O paraíso, O mar e Na estrada de Santiago (esta última foi uma das surpresas não incluídas no CD), foram as que acolheram os aplausos mais entusiásticos do público. As novas cantoras, Rita Damásio e Mariana Abrunheiro, provaram que mereceram ser as “escolhidas” para substituir a Teresa Salgueiro. Com efeito, têm vozes dignas de interpretar os poemas do Pedro e do Carlos.

A Rita Damásio tem carisma, postura elegante e personalidade em palco (sem ser esse o objectivo, nalguns momentos fazia lembrar a Teresa).

Em relação à Mariana Abrunheiro, e não obstante a sua excelente voz, esteva completamente desajustada do grupo e do local. Sem qualquer noção de espaço, raras vezes se posicionou onde devia, causando instabilidade na sala e desequilíbrio na harmonia do palco. Intimidou as primeiras filas (a qualquer momento poderia saltar para a plateia) e adoptou uma postura exageradamente trágica na interpretação das canções, desviando as atenções do essencial. Talvez a sua postura seja influenciada pela sua formação em canto lírico, mas necessita de moderar aqueles ímpetos próprios de uma ópera…

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Coming soon...

O livro After Dark já foi traduzido para português e vai ter o título Os Passageiros da Noite. Estará disponível nas livrarias ainda durante o mês de Novembro, sob a chancela da Casa das Letras.

Fala de personagens que se cruzam numa noite em Tóquio: uma rapariga que passa o tempo a ler em restaurantes de fast food ou bares, um rapaz que toca trombone, uma prostituta chinesa espancada e o seu agressor, o gerente de um motel e ex-pugilista, uma modelo que dorme.

Como (quase) sempre nos livros do Murakami, há muito jazz como banda sonora.

A Newsweek salientou: Ao escrever sobre os mistérios da noite recorrendo apenas a dados concretos e reais, Murakami confere à paisagem nocturna a espessura de um sonho vivido… After Dark é um daqueles livros para ter à cabeceira, o companheiro perfeito para as noites de insónia.

Another World

Já está à venda o ultimo álbum, Another World, dos Antony And The Johnsons. A ouvir, naturalmente...

A capa tem a foto do mítico bailarino japonês Kazuo Ohno (autoria de Pierre-Olivier Deschamps, 1984).

Faixas:
01 Another World
02 Crackagen
03 Shake That Devil
04 Sing for Me
05 Hope Mountain

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Retratos de família








Ruínas

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


José Luís Peixoto, A criança em ruínas
Quasi

E se...


Quantas vezes, depois disso, ela se perguntara o que poderia ter acontecido se tivesse tentado continuar com ele, se tivesse retribuído o beijo de Richard na esquina da Bleecker com a MacDougal, partido com ele para qualquer lado (para onde?), se nunca tivesse comprado o pacote de incenso ou o casaco de alpaca com os botões do feitio de rosas. Não poderiam ter descoberto alguma coisa...maior e mais estranha do que aquilo que tinham? É impossível não imaginar esse outro futuro, esse futuro recusado, como tendo sido vivido em Itália ou França, entre grandes salas cheias de sol e como um imenso e duradouro romance assente numa amizade tão abrasadora e profunda que os acompanharia até à sepultura e, quem sabe, talvez mesmo para lá dela. Ela podia, pensa, ter entrado noutro mundo. Podia ter tido uma vida tão intensa e perigosa como a própria literatura.

Michael Cunningham, As Horas [excerto]

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Solidão

José Machado Pais, Nos Rastos da Solidão, Deambulações Sociológicas, Âmbar, 2006

O sociólogo José Machado Pais tenta chegar à realidade deste sentimento deambulando nos rastos das vivências que lhe dão forma, buscando os seus distintos rostos nos rostos distintos de quem a vive: mendigos que dormem na rua; vagabundos, esquizofrénicos e consumidores compulsivos; bêbados e alcoólicos; viúvos, idosos e moribundos; amantes virtuais; solitários que se projectam em mundos espirituais; gente que se afeiçoa a animais de estimação; imigrantes clandestinos...

Um excelente e interessante trabalho, acessível e compreensível por todos.

Índice (resumido):
Introdução: seguindo rastos, fixando rostos
A minha casa é um mundo: os sem-abrigo
As faces ocultas da loucura: o consumismo que nos consome
Peregrinando tabernas: fugas de si mesmo
Exilados da vida: a solidão na velhice
Afectos virtuais: em busca de conexão
O desencanto com o mundo: a força do transcendental
Animais de companhia: o vazio da perda
Em busca de um Oeste: imigrantes do Leste
Conclusão: desenlaces, solidão, solidariedade

Com licença

Studio 54

Lendária discoteca localizada em Nova Iorque. Inaugurada em 1977, encerrou em 1986. Idealizada por Steve Rubell na época áurea do "disco"…