A forma das coisas
06.06.2009
Quatro coreógrafos, CNB
3 de Junho, 21h, Teatro Camões
Meia sala
3 de Junho, 21h, Teatro Camões
Meia sala
[Apresenta-se apenas o excerto relativo a Isolda de Olga Roriz]
[…] Olga Roriz faz de Wagner, e do seu Prelúdio e Morte de Tristão e Isolda, a matéria-prima para explorar não tanto o virtuosismo dos intérpretes […] mas um espaço-tempo onde conflui um dramatismo que é explorado não pela estética mas pela forma.
[…] E a relação entre o tempo e a gestão de referências […] é gerida com contenção e utilizada a favor de uma coreografia que, enquanto se desenvolve, se liberta das raízes e ganha uma identidade única.
A intrincada combinação entre música e movimento, agindo enquanto entidades complementares e nunca servis, permite isolar cada uma das intérpretes que, nunca cedendo na hierarquização, encontram um espaço identitário comum que partilham como se dele dependesse a sua existência. Esta liberdade na criação, capaz de gerir as treze bailarinas numa imensa massa vermelha e negra […] resiste à forma, ganha espaço autónomo num discurso eminentemente trágico e liberta-se de estrangulamentos temporais.
Não deixa, por isso, de ser paradoxal que tendo sido criada em 1991, ano de afirmação internacional da nova dança portuguesa, Isolda permaneça ainda como uma peça que, dezanove anos depois, permite perceber, em retrospectiva, não só o discurso singular de Olga Roriz - trabalhando o conteúdo e extravasando a forma, acumulando generosamente sentidos e direcções, movendo-se em territórios formais mas neles descobrindo relações inusitadas -, mas também, e sobretudo, a singularidade do desenho coreográfico que faz dos corpos femininos.
Na mesma voluptuosidade, no mesmo mergulho intenso na emoção, na mesma sensação de abandono das figuras femininas que já vinha do matricial solo Jardim de Inverno (1989, refeito em 2004), e se prolonga, por exemplo, em Os olhos de Gulay Cabbar (2000), mas também nas sequências dançadas só pelas mulheres em Pedro e Inês (2003) ou até mesmo dos esboços de personagens que criou para as intérpretes de Paraíso (2007), pode ver-se a força autoral de uma coreógrafa que não se limita a juntar barrocas paisagens visuais.
Tiago Bartolomeu Costa
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Em relação às peças dos três restantes coreógrafos, em minha opinião as mesmas consubstanciaram uma bela e interessante viagem aos respectivos universos dos seus criadores. Permaneceu a vontade de os rever. Brevemente. Foram eles:
Rui Lopes Graça com À flor da pele, Vasco Wellenkamp com Fauno e Marguerite Donlon com Strokes through the tail.
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