Uma óptima oportunidade para ver ou rever (será o meu caso, lá estarei!!!) um magnífico conjunto de 3 peças…
Eis o programa:
À FLOR DA PELE
procuro um rasto de ti.
à flor da pele tropeço nos passos cansados.
à flor da pele trémulo e exausto
tapo todos os poros.
à flor da pele amordaço a esperança.
à flor da pele nado no suor derramado
lamento, encolho e sorvo a fraqueza.
à flor da pele conspiram lugares e olhares
mostro-me nu, estrangulo e mordo a inocência da carne.
mato!
à flor da pele, quebro e morro mais um pouco.
à flor da pele, procuro um rasto de ti.
(Rui Lopes Graça)
CONCERTO
Concerto, construído a partir de uma peça para cravo de J. S. Bach, é um bailado coreografado para três bailarinos e uma bailarina, em torno de uma mesa imponente, único ponto fixo como vórtice das dinâmicas e das tensões dos corpos.
A complexa relação das personagens resulta obviamente da variedade dos tempi de Bach: ora implacáveis e rápidos ora lentos e dilatados, numa explosiva mistura de aceleração de energia com lacerantes encontros passionais.
(Marco Cantalupo)
STROKES THROUGH THE TAIL
O misterioso título desta coreografia deve-se ao facto de Marguerite Donlon ter lido, num prefácio numa das edições da Sinfonia nº 40 em sol menor KV 550 para piano de Mozart, que este compositor imprimia traços (strokes), com a sua pena, sobre as notas musicais da partitura manuscrita, para indicar a forma particular de as interpretar. Esses traços cruzavam, em alguns pontos, as hastes (tails) da oitava e décima sexta notas.
A palavra tail em inglês refere-se igualmente à parte de trás de uma casaca (tailcoat) que nesta coreografia assume um papel da maior importância.
Munindo-se de casaca e tutu, Marguerite Donlon demonstra o modo como facilmente ligamos objectos indefesos com o conceito tipicamente masculino ou tipicamente feminino. Ou melhor, como rapidamente apreendemos um objecto como inadequado quando utilizado fora do seu contexto habitual.
Contudo, Strokes Through The Tail demonstra-nos que um homem em tronco nu, vestindo um tutu, pode tornar-se não só verdadeiramente cómico, como também marcadamente sensual. O mesmo se aplica no caso da mulher vestida de casaca. Marguerite Donlon (…) a destemida coreógrafa irlandesa está a romper as barreiras que dividem a dança e o cidadão comum. O seu trabalho afasta-se de qualquer ideologia artística e é incapaz de se tornar fastidioso. Lançando uma ponte entre clássico e cómico, avant-garde e o teatro de fantoches, é de tal modo divertido que os entusiastas desta bailarina, outrora pertencente à Companhia de Peter Schaufuss e à Ópera de Berlim, acusam-na de fazer as suas obras demasiado pequenas.
(Arnd Wesemann)
Sem comentários:
Enviar um comentário