domingo, 12 de julho de 2009

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"Esse amor
Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Esse amor
Belo como o dia
E mau como o tempo
Quando o tempo está mau
Esse amor
Tão verdadeiro
Esse amor tão belo
Tão feliz
Tão jovial
E tão irrisório
A tremer de medo como uma criança no escuro
tão seguro de si
Como um homem sereno em plena noite
Esse amor que assustava os outros
Que os fazia comentar
Que os fazia empalidecer
Esse amor vigiado
Porque nós o vigiávamos
Perseguido ferido espezinhado consumado negado esquecido
Porque nós o perseguimos ferimos espezinhámos consumámos negámos esquecemos
Esse amor íntegro
Ainda tão vivo
E ainda tão resplandecente
É o teu
É o meu
Aquele que foi
Essa coisa sempre nova
E que não mudou
Tão verdadeira como uma planta
Tão trémula como um pássaro
Tão quente e palpitante como o Verão
Podemos tu e eu
Partir e voltar
Podemos esquecer
E adormecer
Acordar sofrer envelhecer
E voltar a adormecer
Sonhar com a morte
Acordar sorrir e rir
E rejuvenescer
Que o nosso amor permanece
Teimoso como um burro
Intenso como o desejo
Cruel como a memória
Tolo como o remorso
Terno como a saudade
Frio como o mármore
Belo como o dia
Frágil como uma criança
Ele olha-nos a sorrir
E fala-nos sem nada dizer
Eu escuto-o a tremer
E grito
Grito em teu nome
Grito em meu nome
Suplico-te
Em teu nome e em meu nome e em nome de todos os que se amam
E que se amaram
sim
Grito
Em teu nome em meu nome e em nome de todos os outros que não conheço
Fica aí
Não te mexas
Não te vás
Nós que somos amados
Esquecemos-te
Mas não nos esqueças tu
Só te tínhamos a ti
Não nos deixes ficar frios
E distantes
E seja onde for
Dá sinal de vida
Mais tarde ao fundo de um bosque
Na floresta da memória
Aparece de súbito
estende-nos a mão
E salva-nos"

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