segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A cidade como espaço do vazio

«Criaturas, seguindo Ruy Belo

Reunidos em torno da revista Criatura, Diogo Vaz Pinto, Hugo Roque e Pedro Jordão são, em maior ou menor grau, extremamente atentos à possibilidade de sentido que o literal pode fazer deflagrar no poema. Cenários urbanos, cafés, bares, discotecas, mas também a Bíblia, Deus, paisagens industriais, uma total (propositada?) ausência da rima, mas uma curiosa impressão rítmica fazem destes três poetas vozes muito originais que, esperemos, não se tornem epígonos de uma qualquer tendência meramente literal.
[…]
Já em Hugo Roque qualquer coisa de Cesário parece reencontrar-se connosco. Baudelaire e Hart Crane são leituras que se pressentem. Também Roque nos vem falar do dióxido de carbono social, da cidade como espaço do vazio, do quotidiano mais ignóbil porque exausto. Neste poeta, em cujos poemas há a tentação da quadra, ou do poema vertical, atomizado, à Carlos de Oliveira, igualmente se indicia a ironia deceptiva à O'Neill: «Estou demasiado cansado/ agora que dormi horas a mais/ estou com tempo/ ia bem um lanche ao final da tarde/ à noite uma peça de teatro/ que já faz tanto tempo [...]». Todavia, Hugo Roque (n. 1978) é, parece-nos, um trabalhador do verso, um cinzelador não de palavras, mas das sensações: uma extenuação, um abatimento, a recordação do tempo, a certeza de estarmos em tempos do fim farão de Hugo Roque um autor a seguir com toda a atenção.
[…]
Estes rios vão desaguar onde? Lirismo, ou haverá outro caminho?»

António Carlos Cortez, in Jornal de Letras n.º 1001

3 comentários:

Abssinto disse...

Muito obrigado, Rui! É muito mais do que eu mereço, realmente! Como um tipo que já raramente lê poesia se encontra de repente a fazer sku em baba de pasmo!

Diz-me, conseguiste ainda encontrar o n.º2 da Criatura? Se não, encontras na totalidade os poemas lá no meu beco escuro.

Abraço

Rui Sousa disse...

Hugo,

o JL não faz "favores". É naturalmente merecido!
Não se encontra em lado nenhum!!! Tenho andado de lanterna a passear pelo beco escuro.

O que tenho lido tem-me feito voltar. Fi-lo há pouco. Estou estupefacto com a beleza e profundidade do "afoga-te mais eu".

Poderia constar na capa do próximo JL!!!

Abraços

r.

Abssinto disse...

Oi Rui!

olha, o que se passa com o teu blog? está a branco...ou é de mim??

Era só para saberes! vê isso que eu gosto muito de ficar aqui.

;)
abraço