terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Mar de solidão

«(…)
- O barulho do mar e do vento. A montanha, a ideia da montanha impraticável. E depois a terra arenosa por ali fora. E a solidão. E sentir sobretudo que já não pode haver medo. Fecho as portas da casa, a porta de saída e as portas dos quartos entre si. E fico no quarto sem soalho e deito-me no chão. Ouço o mar e o vento à frente e atrás da montanha solitária e poderosa. Depois encosto a cara à terra profundíssima para escutar o seu húmido sussurro atravessando-a toda e passando por mim. E então poderei morrer.»

Herberto Helder, Os Passos em Volta (excerto), Ed. Assírio & Alvim

2 comentários:

Anónimo disse...

reparaste como ele fechou todas as portas? era inevitável. pra não ter medo.
(era mesmo o que eu precisava de ler, obrigada)

Rui Sousa disse...

É a primeira coisa a fazer, Alice! Feliz de quem tem a vida arrumada numas águas furtadas e pode livremente abrir as janelas das mansardas, sem a ameaça de perigos.
Até breve, obrigado pela visita.
r.